Fichamento de Arqueologia do Saber

FOUCAULT, Michel. Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
______, M. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.
______M. A Arqueologia do Saber. 8ed. Trad. bras. Luiz Felipe Baeta Neves. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013.
Diana de Oliveira Brito ( AUDiscurso-UNEB)


Arqueologia do Saber - Michael Foucault


·         Ora, mais ou menos na mesma época, nessas disciplinas chamadas histórias das ideias, das ciências, da filosofia, do pensamento e da literatura (a especificidade de cada uma pode ser negligenciada por um instante), nessas disciplinas que, apesar de seu título, escapam, em grande parte, ao trabalho do historiador e a seus métodos, a atenção se deslocou, ao contrário, das vastas unidades descritas como "épocas" ou "séculos" para fenômenos de ruptura. (Foucault, 2008, p.6)
·         Redistribuições recorrentes que fazem aparecer vários passados, várias formas de encadeamento, várias hierarquias de importância, várias redes de determinações, várias ideologias, para uma única e mesma ciência, à medida que seu presente se modifica. (Foucault, 2008, p.6)
·         Vê-se, então, o espraiamento de todo um campo de questões - algumas já familiares - pelas quais essa nova forma de história tenta elaborar sua própria teoria: como especificar os diferentes conceitos que permitem avaliar a descontinuidade (limiar, ruptura, corte, mutação, transformação)? (Foucault, 2008, p.6)

- Nós deparamos com os primeiros questionamentos que Michael Foucault faz em Arqueologia do Saber: Através de que critérios isolar as unidades com que nos relacionamos:

·         O que é uma ciência?  O que é uma obra?  O que é uma teoria? O que é um conceito?  O que é um texto? Como diversificar os níveis em que podemos colocar-nos, cada um deles compreendendo suas escansões e sua forma de análise? Qual é o nível legítimo da formalização? Qual é o da interpretação? Qual é o da análise estrutural? Qual é o das determinações de causalidade? (Foucault, 2008, p.6)
Estes questionamentos põem o discurso novamente em um jogo de relações, uma prática que articula status, lugares e posições e, em plena expressão discursiva, produz um campo de regularidades para as diversas (e dispersas) posições de subjetividade.

·         Portanto “O aparecimento dos períodos longos na história de hoje não é um retorno às filosofias da história, às grandes eras do mundo, ou às fases prescritas pelo destino das civilizações; é o efeito da elaboração, metodologicamente organizada, das séries. Ora, na história das ideias, do pensamento e das ciências, a mesma mutação provocou um efeito inverso”. (Foucault, 2008, p.9)

·         Ele afirma que “não se fala da mesma descontinuidade quando se descreve um limiar epistemológico, a reversão de uma curva de população, ou a substituição de uma técnica por outra”. (Foucault, 2008, p.10)

·         Portanto “paradoxal noção de descontinuidade:  é, ao mesmo tempo, instrumento e objeto de pesquisa, delimita o campo de que é o efeito, permite individualizar os domínios, mas só pode ser estabelecida através da comparação desses domínios”. (Foucault, 2008, p.10)

·         Enfim, não é simplesmente um conceito presente no discurso do historiador, mas este, secretamente, a supõe: de onde poderia ele falar, na verdade, senão a partir dessa ruptura que lhe oferece como objeto a história - e sua própria história? Um dos traços mais essenciais da história nova é, sem dúvida, esse deslocamento do descontínuo. (Foucault, 2008, p.10)

·          Para Foucault os estudiosos precisam olhar os "quadros"[1] com mais nitidez, ecoando o cinema “Mozano fala sobre isso)(Foucault, 2008, p.11) ( Nessa citação usamos o número 1 mas, no livro está número 2 em nota de rodapé)



        A Arqueologia do Saber: A formação Discursiva

De acordo com Foucault o Discurso, o enunciado e o saber ele em termos de método, uma nova história:

·         (…) em nossos dias, a história é o que transforma documentos em monumentos e que desdobra, onde se decifravam rastros deixados pelos homens, onde se tentava reconhecer em profundidade o que tinham sido, uma massa de elementos que devem ser isolados, agrupados, tornados pertinentes, inter-relacionados, organizados em conjuntos. Havia um tempo em que a arqueologia, como disciplina dos monumentos mudos, dos rastros inertes, dos objetos sem contexto e das coisas deixadas pelo passado, se voltava para a história e só tomava sentido pelo restabelecimento de um discurso histórico; que poderíamos dizer, jogando um pouco com as palavras, que a história, em nossos dias, se volta para a arqueologia – para a descrição intrínseca do monumento. (FOUCAULT, 2009, p. 8)

·         Para ele o discurso é “um conjunto de enunciados, na medida em que se apoiem na mesma formação discursiva”; este conjunto é limitado a um certo número de enunciados, além de ser “histórico – fragmento de história, unidade e descontinuidade na própria história, que coloca o problema de seus próprios limites, de seus cortes, de suas transformações, dos modos específicos de sua temporalidade, e não de seu surgimento abrupto em meio às cumplicidades do tempo.” (FOUCAULT, 2009, p. 132-133). 

·         Assim esta prática discursiva se define como um “conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram, em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa” (FOUCAULT, 2009, p. 133).

·         De fato Foucault esmiúça o conceito-noção de formação discursiva e que, “no caso em que se puder descrever, entre um certo número de enunciados, semelhante sistema de dispersão, e no caso em que entre os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas, se puder definir uma regularidade (uma ordem, correlações, posições e funcionamentos, transformações), diremos, por convenção, que se trata de uma formação discursiva (…).Foucault (2009, p. 43)

·         Neste sentido, há um jogo de relações “enfim, todo um conjunto que caracteriza para essa prática discursiva e a formação de seus enunciados.” (FOUCAULT, 2009, p. 200-201).

·         Sendo assim, objetos não preexistem a eles mesmos, só surgindo sob “as condições positivas de um feixe complexo de relações.” (FOUCAULT, 2009, p. 50)

·          Deste modo, relações se estabelecem entre “instituições, processos econômicos e sociais, formas de comportamento, sistemas de normas, técnicas, tipos de classificação, modos de caracterização” (FOUCAULT, 2009, p. 50).

·         Portanto, em termos de análise, todo e qualquer objeto deve ser “relacionado ao conjunto de regras que permitem formá-los como objetos de um discurso e que constituem, assim, suas condições de aparecimento histórico.” (FOUCAULT, 2009, p. 53).

·         “não são elementos perturbadores que, superpondo-se à sua forma pura, neutra, intemporal e silenciosa, a reprimiriam e fariam falar em seu lugar um discurso mascarado, mas sim elementos formadores.” (FOUCAULT, 2009, p. 75).

·         Escolhas estas, por fim, que não se encontram exteriores ao discurso; “não são elementos perturbadores que, superpondo-se à sua forma pura, neutra, intemporal e silenciosa, a reprimiriam e fariam falar em seu lugar um discurso mascarado, mas sim elementos formadores.” (FOUCAULT, 2009, p. 75).

·         Assim conclui que, “Uma formação discursiva será individualizada se se puder definir o sistema de formação das diferentes estratégias que nela se desenrolam; em outros termos, se se puder mostrar como todas derivam (malgrado sua diversidade por vezes extrema, malgrado sua dispersão no tempo) de um mesmo jogo de relações”. (FOUCAULT, 2009, p. 76)

·         Em uma de suas inúmeras observações Foucault explicita que “não desempenha, pois, o papel de uma figura que pará no tempo e o congela por décadas ou séculos: ela determina uma regularidade própria de processos temporais; coloca o princípio de articulação entre uma série de acontecimentos discursivos e outras séries de acontecimentos, transformações, mutações e processos. Não se trata de uma forma intemporal, mas de um esquema de correspondência entre diversas séries temporais”  (Foucault (2009, p. 83)

Os métodos, ruptura e recorte:



·         É preciso também que nos inquietemos diante de certos recortes ou agrupamentos que já nos são familiares. É possível admitir, tais como são, a distinção dos grandes tipos de discurso, ou a das formas ou dos gêneros que opõem, umas às outras, ciência, literatura, filosofia, religião, história, ficção etc. (Foucault (2009, p. 26)

·         De qualquer maneira, esses recortes - quer se trate dos que admitimos ou dos que são contemporâneos dos discursos estudados - são sempre, eles próprios, categorias reflexivas, princípios de classificação, regras normativas, tipos institucionalizados: são, por sua vez, fatos de discurso que merecem ser analisados ao lado dos outros, que com eles mantêm, certamente, relações complexas, mas que não constituem seus caracteres intrínsecos, autóctones e universalmente reconhecíveis. (Foucault (2009, p. 26)

·         As noções de desenvolvimento e de evolução: elas permitem reagrupar uma sucessão de acontecimentos dispersos; relacioná-los a um único e mesmo princípio organizador; submetê-los ao poder exemplar da vida com seus jogos de adaptação, sua capacidade de inovação, a incessante correlação de seus diferentes elementos, seus sistemas de assimilação de trocas. (FOUCAULT, 2013, p. 26).

·         Para Foucault ao se tratar de um recorte quer se trate dos que admitimos ou dos que são contemporâneos dos discursos estudados são sempre, eles próprios, categorias reflexivas, princípios de classificação, regras normativas, tipos institucionalizados (FOUCAULT, 2013, p. 27).


·         Admite-se que deve haver um nível (tão profundo quanto é preciso imaginar) no qual a obra se revela, em todos seus fragmentos, mesmo nos mais minúsculos e os menos essenciais, como a expressão do pensamento, ou da experiência, ou da imaginação, ou do inconsciente do autor. (FOUCAULT, 2013, p. 29).
·         Os discursos que se pretende analisar: renunciar a dois temas que estão ligados um ao outro que se opõem. Um  quer que jamais seja possível assinalar, na ordem do discurso, a irrupção de um acontecimento verdadeiro; que além de qualquer começo aparente há sempre uma origem secreta – tão secreta e tão originária que delas jamais nos poderemos nos reapoderar inteiramente. (FOUCAULT, 2013, p. 30).

·         O discurso manifesto não passaria, afinal de contas, da presença repressiva do que ele diz; e esse não dito seria um vazio minado, do interior, tudo que se diz. (FOUCAULT, 2013, p. 30).

·         A configuração do campo enunciativo compreende, também, formas de coexistência. Estas delineiam, inicialmente, um campo de presença (isto é, todos os enunciados já reformulados em alguma outra parte e que são retomados em um discurso a título de verdade admitida, de descrição exata, de raciocínio fundado ou de pressuposto necessário, e também os que são criticados, discutidos e julgados, assim como os que são rejeitados e excluídos) ” (FOUCAULT, 2013, p. 68).

·         Não se toma como objeto de análise a arquitetura conceitual de um texto isolado, de uma obra individual ou de uma ciência em um dado momento ” (FOUCAULT, 2013, p. 71).

·         Uma certa forma de regularidade caracteriza, pois, um conjunto de enunciados, sem que seja necessário – ou possível – estabelecer uma diferença entre o que seria novo e o que não seria [...] Temos, portanto, campos homogêneos de regularidades enunciativas (eles caracterizam uma formação discursiva), mas tais campos são diferentes entre si (FOUCAULT, 2013, p. 177).


·         Vimos que todo enunciado se relaciona a uma certa regularidade – que nada, por conseguinte, podia ser considerado como pura e simples criação, ou maravilhosa desordem do gênio. Mas vimos, também, que nenhum enunciado podia ser considerado como inativo e valer como sombra ou decalque pouco reais de um enunciado inicial (FOUCAULT, 2013, p. 179).

·         A arqueologia pode assim – e eis um de seus temas principais – constituir a árvore de derivação de um discurso, por exemplo, o da história natural (FOUCAULT, 2013, p. 180).


·         Nas tão confusas unidades chamadas “épocas”, ela faz surgirem, com sua especificidade, “períodos enunciativos” que se articulam no tempo dos conceitos, nas fases teóricas, nos estágios de formalização e nas etapas de evolução linguística, mas sem se confundir com eles (FOUCAULT, 2013, p. 182).




[1] 2. precisa assinalar, para os mais desatentos, que um "quadro" (e, sem dúvida, em todos os sentidos do termo) é formalmente uma "série de séries"? De qualquer forma, não se trata de uma pequena imagem fixa que se coloca diante de uma lanterna mágica, para grande decepção das crianças, que, nessa idade, preferem, é claro, a vivacidade do cinema.

0 comentários:

Postar um comentário

 

MICHEL FOUCAULT

LANÇAMENTO - CEDISCO

Marih Design
O objetivo do CEDISCO é popularizar a produção científica por meio de números monográficos que fomentem ao mesmo tempo os estudos discursivos no campo da pesquisa, da extensão e do ensino, colocando em evidência os lugares que o corpo e seus atravessamentos ocupam na constituição do sujeito dos dias de hoje, assim como destacar a materialidade dos suportes que os acolhem. Essa configuração trípica entre discurso, corpo e seu suporte material, de um lado, delimita os contornos da produção científica e, de outro, alarga seus limites.

COURTINE SOBRE PÊCHEUX

EVENTOS

DICA DE LEITURA

Marih Design
Acta Scientiarum. Language and Culture, ISSN 1983-4675 (impresso) e ISSN 1983-4683 (on-line), é publicada semestralmente pela Universidade Estadual de Maringá. A revista publica artigos originais em todas as áreas relevantes de Letras e Linguística. A sua missão é viabilizar o registro público do conhecimento e sua preservação; Publicar resultados de pesquisas envolvendo ideias e novas propostas científicas; Disseminar a informação e o conhecimento gerados pela comunidade científica; Agilizar o processo de comunicação científica na área de Letras e Lingüística.

LEITORES DE IMAGENS - DUBOIS

QUEM SOMOS

Minha foto
Audiscurso
O Laboratório de Estudos do Audiovisual e do Discurso - AUDiscurso atua nas atividades de ensino, pesquisa e extensão da Universidade do Estado da Bahia - UNEB, desde abril de 2012.
Ver meu perfil completo

CONHEÇA A NOSSA UNIVERSIDADE

AUDISCURSO NA REDE