Análise do discurso Reflexões Introdutórias. FERNANDES, C,A.

                Análise do Discurso: Reflexões introdutórias
FERNANDES, C, A. Análise do discurso: Reflexões introdutórias. São Carlos: Claraluz, 2008. 2ª Ed. 112p.
                                                           Fichamento:      Leanne Pereira
  

  “Nossa experiência como professor na área da linguística, tem nos possibilitado a compartilhar a falta e a necessidade, de um material bibliográfico cuja natureza didática facilite o acesso a Análise do Discurso. [...] diante disso, produzimos em 2005 a 1ª edição e agora lançamos a revista ampliada deste livro com objetivo de fornecer aos estudantes e professores da Análise do Discurso, subsídios para atividades de ensino.” ( p. 7)
“Partiremos de uma interrogação inicial: O que se entende por discurso? [...] visando a compreensão desse objeto [...] estabeleceremos suas inter-relações teóricas, abordando  alguns conceitos primordiais  da Análise do Discurso.[...] refletiremos também sobre noção de sentidos e de feitos de sentidos decorrentes das representações sociais e imaginárias dos homens em Sociedade [....] arrolaremos reflexões especificas  sobre noção de sujeito discursivo.” ( p. 8 )
“O terceiro apresentado, momento em que faremos uma recorrência á História, disciplina que se intercruza com a linguística para a constituição da Análise do Discurso. [...] mostraremos, também em capítulo específico, o intercruzamento de diferentes disciplinas na constituição da Análise do Discurso, no rol das ciências e da linguagem [....] explicitaremos esse caráter  interdisciplinar visando à explicação da constituição da Análise do Discurso como subárea da Linguística....explicitar aspectos metodológicos próprios da Análise do Discurso...teoria e metodologia são indissociáveis, a escolha metodológica vincula-se a escolha teórica.” ( p. 9 )
Após a explanação dos conceitos de Análise do Discurso...tomaremos como material para análise o poema Leilão de Joraci Schafflar Camargo e Hekel Tavares...explicitaremos o entrecruzamento dos aspectos sociais, históricos e ideológicos da linguagem.[...] finalmente [...] explicitaremos [...] a construção histórica da Análise do Discurso de suas primeiras proposições aos dias atuais, passou por reelaborações...aos que seus proponentes denominam...das três épocas da AD: ADI, AD2 e AD3.” ( p. 10 )
“A Sequencia dos capítulos [...] deve-se apenas a uma organização didática para esse texto, pois na Análise do Discurso,[...] cada conceito ao ser arrolado exige a [...]explanação de [...] outros com os quais estabelece uma relação de interdependência.”  ( p. 10)


A Noção de Discurso: Discurso, Ideologia e Efeito de Sentido

            “ O que se entende por discurso? ...é constantemente utilizada para fazer referência a pronunciamentos políticos, a um texto...mais rebuscados, [...] pronunciamento marcado por eloquência [....] porém, para compreendermos discurso como [...] objeto de investigação cientifica, devemos romper essas acepções advindas do senso comum, [...] e [...] compreende-lo, respaldados em acepções teóricas relacionados a métodos de análise.” ( p. 12 )
 “O discurso implica uma exterioridade à língua, encontra-se no social e envolve questões de natureza não estritamente linguística [...] o discurso não é língua(gem) em si, mas precisa dela para ter existência material e/ou real.” ( p. 13 )
            “O estudo do discurso toma a língua materializada em forma de texto, forma linguístico-histórica, tendo o discurso como objeto.” ( P. 15 )
            “As palavras tem sentido com as formações ideológicas em que os sujeitos  (interlocutores) se inscrevem.” ( P. 16 )
“A unidade do discurso constitui-se por um conjunto de enunciados efetivamente produzidos na dispersão.” ( P. 17). [...] de diferentes discursos, que por sua vez, expressam a posição de grupos de sujeitos acerca de um mesmo tema.” ( P. 20 )

O Sujeito Discursivo: Polifonia, Heterogeneidade e Identidade

“Na Análise do Discurso para compreendermos a noção de sujeito devemos considerar. [...] que não se trata de indivíduos compreendidos, [...] isto é, o sujeito, na perspectiva em discussão, não é um ser humano individualizado. [...] o sujeito discursivo, deve ser considerado sempre como um ser social, apreendido, em um espaço coletivo; [...] a voz desse sujeito revela o lugar social; logo, expressa um conjunto de outras vozes integrantes de dada realidade histórica e social. para a compreensão do sujeito nessa perspectiva, ( p. 24)  verificamos como o sujeito pode ser apreendido e analisado a partir dos discursos. ( p. 25)
“Na Linguística, em geral, o sujeito, quando considerado, ora é um sujeito falante, apreendido num contexto social imediato. uma das primeiras distinções a serem estabelecidas entre sujeito falando e sujeito falando. [...] sujeito falante [...] trata-se do sujeito empírico, individualizado... o sujeito falando. 9 p. 25 ) [...] refere-se a um sujeito inserido em uma conjuntura sócio-histórica-ideológica cuja voz é constituída de um conjunto de vozes sociais.” 9 p. 27)
“Ao considerarmos um sujeito discursivo, acerca de um mesmo tema, encontramos em sua voz diferentes vozes oriundas de diferentes discursos, [...] A Análise do Discurso, denomina-se polifonia, [...] a não conformidade do sujeito, a polifonia constitutiva do sujeito discursivo, temos a noção de heterogeneidade... designa um objeto, [...] constituído de elementos diversificados.” ( p. 26)
“A noção de heterogeneidade, ...é subdividida em duas formas. [...] a heterogeneidade constitutiva como condição de existência dos discursos e dos sujeitos. [...] a segunda forma de heterogeneidade...neste caso, a voz do outro se apresenta de forma explicita no discurso do sujeito e pode ser identificada na materialidade linguística.” ( p. 28)
“Com a proporção do conceito de heterogeneidade discursiva Authier-Revuz [...] chama atenção para o descentramento do sujeito: um “eu” implica em outros “eus” e o outro se apresenta como uma condição constitutiva do discurso do sujeito.” ( p. 29 )
“Esses apontamento acrescentam-se reflexões [...] a noção de identidade, também compreendida como plural, não fixa, ou seja, em constante processo de produção. [...] a identidade é apresentada como produto das novas relações sociopolíticas na sociedade e inacabada por não se esgotarem as transformações sociais que sofre.[...] as reflexões sobre esse conceito corroboram o conceito de sujeito próprio da Análise do discurso. [...] o sujeito discursivo é heterogêneo, constitui-se pela relação que estabelece com o outro, pelas interações em diferentes lugares na sociedade.” ( p. 32)
“A heterogeneidade constitutiva do sujeito, reiterada nas diferentes identidades, algumas contraditórias, outras inabaladas e algumas ainda por se produzirem, e nenhuma fixa, todas moventes, revelam-nos a complexa constituição do sujeito no discurso.” ( p. 33)
“Com esses apontamentos acerca do sujeito discursivo na/pela interação social, [...] reinteramos que a polifonia é um aspecto constitutivo dos diferentes discursos e os sujeitos sofrem (trans) formações no cenário histórico social. [...] A identidade assim, como o sujeito, não é fixa, está sempre em produção. [...] para a Análise do Discurso, [...] o discurso, o sujeito e a identidade devem ser observados a partir de ocorrências linguístico-discursivas, uma vez que os enunciados apontam para posições sujeitos.” (p. 35)

Formação Discursiva; Memória e Interdiscurso: Linguagem e História

“As reflexões arroladas em torno das noções de sentido e sujeito e levaram nos a refletir sobre transformações sociais historicamente marcadas, [...] “e colocamos em pauta levantada por Foucault (1995, p.31); a saber: como apareceu um determinado enunciado  não outro em seu lugar? [...] consequentemente, recorremos a história visando explicitar os processos socioideológicos que fazem com que tais lexemas, [...] tenham lugar em nosso cotidiano.”(p.38).
“Uma formação discursiva revela formações ideológicas que a integram, [...] diante disso podemos atestar que toda formação discursiva apresenta, em seu interior, a presença de diferentes discursos, ao que, na Análise do Discurso, denomina-se interdiscurso. Uma formação discursiva dada apresenta elementos vindos de outras formações discursivas que, por vezes, (p.39) [...] contradizem, refutam-na. Consoante com Foucault (1995), todo discurso é marcado por enunciados que o antecedem e o sucedem, integrantes de outros discursos.”(p.40).
“O discurso apresenta-se relevante para se compreender as mudanças histórico-sociais que possibilitam a combinação de diferentes discursos em certas condições sociais especificas, resultando na produção de um discurso. [...] neste ínterim a formação de um discurso resulta (p.39) da combinação de diferentes discursos.” (p.40).
“A noção de unidade vincula-se á dispersão, pois, como argumenta Foucault, todo discurso  resulta de um já-dito (não sabido, apagado) e esse já-dito é sempre um jamais dito.” (p.42)
“Nesse ínterim, unidade e dispersão implicam-se, não se opõem, e uma formação discursiva tem sua regularidade pela Constância de unidades inteiramente formadas. [...] Os anunciados, assim como os discursos, são acontecimentos que sofrem continuidade, descontinuidades, dispersão, formação e transformação, cujas unidades obedecem a regularidades, cujos sentidos são incompletamente alcançados.”(p.43)
“A noção de formação discursiva, cunhada inicialmente por Courtine (1981), não se refere a lembranças que temos no passado, a recordações que um indivíduo tem do que já passou. [...] Um discurso engloba a coletividade dos sujeitos que compartilham aspectos socioculturais e ideológicos, e mantém-se em contraposição a outros discursos.” (p.45)
“Reinteramos, com o até então exposto, que a Análise do Discurso resulta em uma interdisciplinaridade que envolve a Linguística, a História e também a Psicanálise.” (p.49)

Análise do Discurso: Entrecruzamento de Diferentes Campos Disciplinares

“A Análise do Discurso é uma disciplina de caráter transdisciplinar. Sua constituição na Linguística decorre do entrecruzamento de teorias de diferentes campos do saber.” (p.52) 
“Em leitura da biografia da Análise do Discurso visando á compreensão de sua constituição teórica, pensamo-la no interior de uma Linguística que toma a linguagem em uma relação constitutiva com sua exterioridade.” (P.54)
“Cientificamente, consideramos a Linguística como uma disciplina acadêmica devidamente constituída (C. f. Lyons, 1981), porém, muitas vezes atravessadas por outros  campos disciplinares.” (p.55)
“Em toda e qualquer formação discursiva, as contradições representam coerência visto que desvelam elementos exteriores a materialidade linguística. [...] Os sujeitos são marcados por inscrições ideológicas e são atravessadas por discursos de outros sujeitos.” (p.56)
“É comum encontrarmos o uso de discurso referido como o objeto de estudo de outras subáreas da Linguística. Discurso desprovido de um cuidado teórico, é considerado por vezes como equivalente a textos, outras vezes a fala, etc. Observa-se [...] que a noção de disciplina, enquanto ciência, e os atravessamentos constitutivos das ramificações da linguística tem implicações no tratamento do objeto.” (p.60)
“A Análise do Discurso implicam uma ruptura de paradigmas, pois seu objeto encontra-se constantemente em movimento, não é estático, e, não o sendo, implica movência  de sentidos e deslocamentos.[...] precisamos sair da materialidade linguística  em questão para compreende-la em sua exterioridade, no social espaço em que o linguístico, o histórico, e o ideológico coexistem em uma relação de implicância.” ( p.61)

Metodologia em Análise do Discurso

A Noção Recorte

“Em Análise do Discurso, há, conforme aponta Pechêux (1997ª), um  batimento entre teoria e interpretação. A partir desta consideração, apresentaremos algumas possibilidades metodológicas de abordagem de corpora para a análise.” ( p.64)
“Visando a exposição de alguns aspectos metodológicos para a análise de discursos, apresentaremos as noções de recorte, conforme encontramos em Orlandi (1984); enunciado, segundo Foucault (1995); e trajeto temático, como propõe Guilhaumou (2002).” (P. 64)
“A noção de recorte é apresentada por Orlandi (1984, p. 14) como unidade discursiva [...] fragmentos correlacionados de linguagem [...] um fragmento situação discursiva, definido por associações semânticas, acrescenta Voese ( 1998). [...] quando o analista escolhe seu objeto de análise, ele precisa selecionar pequenas partes, escolhidas por relações semânticas. [...] o analista deverá recortar, desse material mais amplo, fragmentos.[...] o recorte pode atender também uma necessidade de delimitação do material, dada a sua extensão, pela focalização de enunciados específicos, mas sua natureza e seleção são possíveis somente mediante a objetos de pesquisa.” ( p. 65)

A Noção de Enunciado

“A discussão / exposição da noção de enunciado empreendida por Foucault ( 1995) [...] explicita teórico-metodológica desse conceito para esse campo disciplinar, [..] não se pensa teoria sem pensar metodologia, assim, a teorização desse conceito possibilita também refletir sobre a constituição de corpus. [..] o enunciado se distingue de frase, proposição, ato e fala, [...] trata-se da operação efetuada [..] pelo que se produziu pelo próprio fato de ter sido enunciado ( Foucault, 1995, p. 94). [...] Orlandi ( 1987,p. 17) reitera que o enunciado não está escondido, mas não visível. [...] trata-se de buscar na exterioridade de um enunciado determinado, as regras de sua aparição; a relação que mantém com o que enuncia.” ( p.66)
“Concernente a relação sujeito e enunciado, sempre há um sujeito, um autor, ou uma instância produtora. [...] a Análise do enunciado na Análise do Discurso deve investigar qual é essa posição sujeito na história.[...] face a  historicidade própria do enunciado, a produção de sentidos vincula-se a memória e reatualiza outros enunciados. [...] dada a relação intrínseca com a história, um enunciado torna-se sempre outro, mesmo havendo um regime de materialidade repetível.”  ( p. 67 )
“As relações entre o enunciado e as formações discursivas que interagem apontam-no como singular. Ao tomarmos um enunciado como objeto de análise, assim como o discurso, vemo-lo como integrante de uma formação discursiva determinada.[...] as reflexões até então arroladas mostram-nos que o enunciado  compreende a constituição de corpus  em Análise do Discurso. Nessa feita, o corpus não precisa ser extenso, mas pode ser compreendido como um conjunto aberto de articulação de discursos ( SARGENTINI, 2005 ).” ( P.69)
A NOÇÃO DE TRAJETO TEMÁTICO

“Ao expormos a noção de enunciado, reinteramos  que uma formação discursiva é sempre homogênea a ela mesma, e, ainda, podemos transcender a análise que focaliza uma formação discursiva.[...] os procedimentos metodológicos em Análise do Discurso podem ser pensados em duas instâncias. Uma macro-instância, a partir da qual situamos o discurso em sua conjuntura, buscando compreender suas condições de produção, ou seja, os aspectos históricos, sociais e ideológicos que determinam a produção do discurso. [...] ressaltamos porém, que essas instâncias são inseparáveis e que não há uma ordem que aponte para a necessidade de uma ser olhada primeiro. Há um constante movimento de ir e vir da materialidade linguística, objeto aos nossos olhos, a sua exterioridade histórica, social e ideológica, espaço de produção e movência dos discursos e dos sentidos.” ( p. 71)

















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