Uma arqueologia do olhar. (p.62-71)

                              UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB
                                   Departamento de Ciências Humanas – DCH VI



MACHADO. Roberto- Foucault, a ciência e o saber. 3 ed - Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

                                                                            Edilane de Jesus Gomes
                                                                            Leanne de Jesus Pereira Castro
Uma arqueologia do olhar. (p.62-71)

“Nascimento da clínica dá prosseguimento às análises arqueológicas iniciadas com História da loucura. Seu objeto, entretanto, não é a loucura ou a doença mental, mas a própria doença; não é mais a psiquiatria, mas a medicina moderna, da qual o início do século XIX assinala o aparecimento. ” (p. 62)
A partir desse momento nasce o conhecimento cientifico, pois, a medicina tornou-se uma ciência empírica. Nesse sentido o Nascimento da clínica tenta fazer uma análise no sentido de mostrar as rupturas apresentadas pelo aparecimento da medicina moderna. A arqueologia não se posiciona para mostrar que foi a medicina moderna que descobriu o seu objeto de estudo, o que mudou com a modernidade...
“[...] é que ela diz de outro modo e vê um outro mundo; o que muda é a relação entre aquilo de que se fala e aquele que fala; o que muda é a própria noção de conhecimento. ” (p. 62)
Nesse sentido, Machado teoriza que o que mudou mesmo foi a maneira que o discurso médico passou a ser visto, pois ele se refere a coisas diferentes e utiliza outros tipos de linguagem. O autor faz de forma elaborada uma conceitualização da medicina clássica e da medicina moderna, para então refletir sobre a elaboração de uma arqueologia sobre essas.
“ O estudo da medicina da época clássica retoma e aprofunda o que havia sido exposto em História da loucura: A doença se define por sua estrutura visível, mostra-se inteiramente a um olhar que percorre seu ser de superfície. Essa verdade totalmente dada na aparência são os sintomas. ” (p.63)

Observamos que pelo olhar histórico, a medicina clássica podia identificar cada doença pelos seus sintomas, assim ela se oponha ao conhecimento filosófico por meio do conhecimento histórico.
“Seguindo o modelo da história natural, a medicina clássica tem como sujeito e como objeto, respectivamente, o olhar de superfície do médico e o espaço plano de classificação das doenças. ” (p.63)
Na medicina clássica o doente não era visto como objeto importante na investigação, era considerado um fator externo, sem nada a acrescentar, a doença sim, era tomada como absoluta.
“[...]na medicina clássica, o espaço de configuração da doença não se superpõe a seu espaço de localização em um corpo doente [...] ‘Para a medicina classificatória, o fato de atingir um órgão não é absolutamente necessário para definir uma doença: ’”
Portanto para a medicina clássica a doença e uma essência que independe do corpo. Porém a arqueologia não opõe a medicina clássica á medicina moderna.
“[...] uma doença é um conjunto de sintomas capazes de serem percebidos pelo olhar. Mas desaparece também a diferença absoluta entre sintoma e signo. Na medida em que o sintoma permite distinguir um fenômeno patológico de um estado de saúde, ele também é signo da doença, o que significa dizer signo de si mesmo, pois a essência da doença é ser um conjunto de sintomas. ” (p.66)
A partir dessa percepção de que a doença é um conjunto de sintomas, fez se necessário que algo exterior aos sintomas pudesse intervir, assim descobre-se o espaço da clínica, esse sendo os sintomas e os signos como campo da percepção e da linguagem, concebendo a clínica como um olhar que seria ao mesmo tempo linguagem.
“Comparando a clínica à medicina clássica. [...] Para a medicina classificatória, quanto mais geral fosse a essência, [...] mais simples ela seria. [...]Para a clínica, ao contrário, a simplicidade está no nível dos elementos, e a complexidade dos casos individuais é dada pela combinação desses elementos. ” (p. 67)
E por isso Machado reitera que Foucault em o Nascimento da clínica se refere a linguagem como uma juntura dos jeitos de ver e dizer e metodologicamente ele procura analisar nesse mesmo livro por meio da linguagem e seu objeto de estudo, as rupturas em torno do olhar médico, como são exercidos diferentes tipos históricos de medicina.
“Foi a transformação da anatomia patológica, tal como operada por Bichat, que tornou possível a constituição da anátomo-clínica. Na medida em que desprivilegiou a consideração do volume, referindo a espessura dos órgãos ao espaço superficial, fino, dos tecidos, ele definiu um olhar de superfície como método da anatomia patológica que se identificava com os princípios da Análise que estava no fundamento da clínica. ” (p.69)
A partir disso, que o olhar começa a se diferenciar em relação a clínica e a medicina classificatória, que possibilita reconsiderar a doença como essência, para o corpo doente. Isso possibilitou a clínica empreender o espaço do corpo como objeto para estudo das doenças.
            “[...]a sede da doença nada mais é do que o ponto de fixação da causa irritante, ponto que é determinado tanto pela irritabilidade do tecido quanto pela força de irritação do agente. O espaço local da doença é, ao mesmo tempo e imediatamente, um espaço causal.” (p.71)
A partir daí, percebemos que a medicina não investigava a doença pela causa, ou seja,  de onde surgiu a lesão e sim a partir do rompimento dos tecidos. Uma vez que a sede da doença é o ponto de partida de onde tudo começou o que aconteceu para que aquele tecido fosse lesionado.
“[...]o modo como os historiadores relacionaram a anatomia patológica com a clínica, ou melhor, interpretaram a abertura dos cadáveres como sendo o fundamento da medicina clínica, como se o “novo espírito médico” tivesse sido formado pela superação dos obstáculos a ele colocados pela religião, pela moral e pelos preconceitos quando proibiam a dissecção.” (p.72)
Nesse momento em que se busca o ser, os médicos são autorizados a abrir os cadáveres para entender o que tem dentro do corpo, o avanço da medicina superou as proibições. Assim entende que se havia uma proibição, já existia antes um desejo de compreensão do corpo, a necessidade de abrir o cadáver, surgiu a pelo fato da compreensão de que as lesões eram o que causavam os sintomas então se tornou fundamental pois a partir dos mortos conheciam melhor os vivos e assim seriam mais fácil a cura.
“[...] para a arqueologia, a transformação não é explicada pela oposição histórica entre dois elementos, teoria e experiência; ela é analisada a partir da relação intrínseca entre dois níveis do conhecimento médico: o olhar e a linguagem. ” (p.73)

Assim, podemos dizer que de acordo a arqueologia não baseava nas experiências, e sim naquilo em que é visto e falado, a lesão no corpo e os sintomas que elas causavam, dai a necessidade de exames.
“[...]é a oposição entre um olhar de superfície que se limita deliberadamente à visibilidade dos sintomas e um olhar de profundidade que transforma o invisível em visível pela investigação do organismo doente. Em suma, a característica básica da ruptura é a mudança das próprias formas de visibilidade. ” (p. 73)
Entende-se assim que o olhar de superfície é aquele examina a pele apenas externo ou fala do paciente, que a causa está lá um corte no braço, um sangramento na pele por exemplo. O olhar de profundidade é a investigação daquela lesão, um exame mais detalhado, um exame de sangue, por exemplo, para poder tornar visível a doença.
“Assim, uma das características da medicina moderna é ter transformado o invisível da espessura orgânica do corpo doente em visível. O que a clínica faz é tornar visível o que era invisível para a percepção da medicina clássica. ” (p.75)
Dessa forma entende-se que a medicina moderna, tem a preocupação de exames detalhados, uma vez que através de exames se torna visível as doenças, o que não era possível na medicina clássica.
“É através da busca do que caracteriza mais profundamente o conhecimento médico que Foucault situa nesse momento a arqueologia com relação às outras histórias das ciências.” (p.77)
Pois para obter um conhecimento faz-se necessário a investigação, o conhecimento médico foi possível após a investigação em cadáveres, quando foi possível abrir o corpo de um morto e com o avanço em relação a exames mais aprofundados.






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