Universidade do Estado da Bahia- UNEB
Departamento de Ciências
Humanas- DCH- Campus VI/ Caetité-Ba
Laboratório de Estudos do Audiovisual e do Discurso-AUDISCUSO
Leanne de Jesus Castro
JULIER, L; MARIE, M. Lendo as imagens do
cinema. Tradução de Magada Lopes.editora senac, 2009.
Ferramentas da análise fílmica
“As ferramentas da análise servem para
caracterizar o estilo. O termo "estilo" deve ser considerado em
sentido amplo, como a arte de contar uma história em imagens e em sons;[...] Tudo
é importante em matéria de estilo: a abertura da objetiva e a cor do papel
pintado atrás do ator, a rapidez do travelling e o vaso de flores embaixo, à
esquerda.” (p. 20)
“A leitura de um simples plano conduz quase
certamente a entrar nos detalhes e na regulação dos parâmetros técnicos e a
flertar com a leitura genética.[...] O novo significado que nasce da consecução
de duas figuras consiste, assim, no que é essencial ao trabalho de leitura.” (p.20)
O nível do plano
“Imaginemos que um operador de câmera decide
filmá-lo, pelo tempo de um único plano de alguns segundos, enquanto você lê
este livro.[...] o exemplo do operador de câmera apressado é simples demais
para refletir com veracidade o que acontece durante a filmagem de um
longa-metragem de pura ficção, em que a cena deve antes ser construída do que
registrada.”(p.21)
[..] Há filmes que contêm milhares de planos, e
outro.s que compreendem apenas um [...] A paleta atual varia aproximadamente,
mas sempre há exceções, entre 200 planos para um filme de autor "contem- plativo'',
rotulado como "filme de arte", e 2 mil para um filme de ação (em que
os trechos de ação atingem facilmente 100 planos/minuto). (p.21)
O ponto de vista
o ponto de vista é apresentado antes de tudo
pela localização da câmera. É o ponto de observação da cena, aquele de onde
parte o olhar. Nenhum ponto de vista é neutro. Todas as posições de câmera
conduzem sua série de conotações. (p.22)
O ponto de vista talvez seja o parâmetro mais
importante no nível do plano, e isso por pelo menos duas razões: se as câmeras
comandadas eletronicamente pudessem ser colocadas em piloto automático, mesmo assim
seria preciso que o seu operador soubesse ou decidisse em que lugar as instalar
e sobre o que apontar a objetiva; pode-se escapar de muitas regulações
técnicas, mas não dessa. (p.22)
“Atuando em um mundo tridimensional, o operador
de câmera precisa em primeiro lugar fazer três escolhas topográficas; o
comprimento do eixo da objetiva, na lateralidade e na verticalidade.” (p.23)
0 comprimento do eixo da objetiva
“O plano médio apresenta o sujeito em sua
unidade. [...] O close-up rompe essa unidade isolando uma de suas partes
(classicamente, a passagem em close-up pode apresentar uma ‘aproximação’ no
sentido próprio e figurado. [...] O plano geral insere o sujeito em seu
ambiente, eventualmente dando uma ideia das relações entre eles.” (p. 24)
Na lateralidade
“Em algumas condições, a centralização pode dar
a ideia de um personagem equilibrado, ‘central’ ou egocêntrico ...[...] Descentralizar.
Pode ser feito respeitando-se a regra dos três terços, regra clássica derivada
da pintura: o sujeito fica situado ao longo dos dois eixos que dividem o quadro
em três, horizontal, verticalmente ou ambos ao mesmo tempo.” (p.25)
Na verticalidade
É comum abster-se de mencionar esta regulação
quando o eixo da objetiva aponta para o centro do sujeito.[...] Conotações
culturais estão ligadas a essa regulação, sem nada automático (uma câmera baixa
obrigatoriamente não magnífica, assim como uma câmera alta necessariamente não
esmaga). (p.26)
A frontalidade do enquadramento
A maioria dos primeiros operadores do cinema
estudou no mundo da fotografia, no qual o retrato de frente, seguindo o modelo
do teatro à italiana, era a figura mais solicitada,[...] A frontalidade coloca
também o problema do olhar-câmera, muito frequente nos primeiros quinze anos do
cinema: (p.27)
o paralelismo
Quando o sujeito está sobre um piso plano
dotado de linhas verticais e horizontais - este também se trata do caso mais
frequente, ainda que alguns filmes sejam rodados quase inteiramente no fundo
dos oceanos ou no espaço sideral. (p.28)
Enfim, quando se fala do ponto de vista, é
preciso às vezes levar em conta) o ponto de escuta. [...] O ponto de vista e o
ponto de escuta têm a mesma origem, no modelo do corpo humano, em que os olhos
e as orelhas são ligados à cabeça - união que facilita a percepção da cena
filmada no modo de testemunha privilegiada.” (p.28)
Distância focal e profundidade do campo
Uma vez decidido o local de observação, a
distância focal e a profundidade do campo definem, rapidamente, a
"quantidade de objetos" que estarão dentro do quadro, no sentido
lateral, pela distância focal, e no sentido do eixo da objetiva, pela
profundidade do campo. (p.29)
[...] Seria possível exprimir essa amplitude em
graus, pois ela forma um ângulo (sobretudo quando se é dotado de um único olho,
como uma câmera),[...] Quando a distância focal é longa, os braços da nossa
cobaia ficam estendidos diante dele, formando um ângulo fechado, como se
cobiçassem algo único, distante, se não inacessível - é a família das teleobjetivas.
(p.29-30)
“A profundidade do campo indica a nitidez no
sentido do eixo da objetiva.[...] ele fixa sua atenção visual em um objeto bem
próximo, o resto do campo tende a se tomar borrado. Mas a semelhança entre o
olho e a câmera não é perfeita.” (p.30)
“A profundidade do campo obedece a restrições
técnicas: quanto maior a quantidade de luz que cai sobre a cena,[...] favorece
eventualmente ambições estéticas e narrativas. Nos primórdios do cinema, essa
questão não era colocada, e o objetivo era obter a maior profundidade de campo
possível filmando cenas em ambiente fechado com plano fechado.” (p.30)
Os movimentos da câmera
É o último parârmetro que intervém na
construção do ponto de vista. Distinguem-se em geral dois tipos de movimento no
modelo do corpo humano são [...] panorâmicos, travellings, zoom. (p.33)
Fluidez e manejabilidade juntos
A partir dos anos 1970, apareceu uma terceira
geração de máquina que separam a câmera do corpo de seu operador. [...] em
setembro de 1975 que Lavalou e Masseron tiram a patente da Louma como a
conhecemos hoje: uma grua leve montada sobre um carrinho carregando na
extremidade de um braço telescópico uma câmera sobre um eixo móvel, tudo
telecomandado. (p.35)
A miniaturização das câmeras acelera quando os
captadores e a transmissão numérica dos dados começam a substituir a película,
no fim da década de 1990. [...] Diferentes combinações são possíveis entre
máquinas antigas e novas. Assim, o sistema desenvolvido por John Gaeta para a
trilogia Matrix, e que permite fazer a volta em um sujeito. (p.37)
“É provavelmente nos valores possíveis desses
parâmetros que é maior a diferença entre a televisão e o cinema - se
abstrairmos o tamanho da tela, que não solicita da mesma maneira a visão. [..]
é preciso, portanto, diferenciar as regulações desejadas pelos idealizadores do
filme das regulagens experimentadas em decorrência de eventos independentes da
sua vontade. (p.37)
As combinações audiovisuais
A trilha sonora é a tradicional mal-amada das
"leituras de filmes" O vocabulário, a cultura, as visões de mundo
(expressão reveladora) dos humanos são mais adaptados ao universo visual do que
ao seu correspondente sonoro. [...] Para esboçar um rápido retrato da faixa
sonora, o mais simples é seguir a separação da matéria sonora (tradicional no
ofício) em ruídos, música e palavras, considerando seus possíveis papéis. (p.39)
Os ruídos
Os ruídos valem antes de tudo por si mesmos, e
por isso certamente os sistemas de reprodução sonora terminaram fazendo-lhes
justiça. [...] esse recurso à invisibilidade da sua fonte constitui facilmente
um fator de suspense. (p.39)
Musica
Sem que se saiba de onde ela vem nem com que
instrumentos é produzida, sem mesmo se estar familiarizado com sua ling uagem,
a música - é um de seus encantos mais evidentes - pode fazer efeito por si
mesma, para nos encantar ou nos causar arrepios. (p. 40)
As palavras
A quase totalidade do cinema falado é
constituída de muitos diálogos, e muitas histórias dificilmente seriam
compreensíveis se os filmes fossem privados das palavras: o nome dos
personagens, o que leva às suas ações, sem contar todas as situações em que
"dizer é fazer", são passagens obrigatórias da maior parte dos
cenários filmados. (p.41)
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