Claudinete Sobrinho
A fotografia de imprensa é uma mensagem. A totalidade dessa mensagem c constituída por uma fonte emissora, um canal de transmissão e um meio receptor. A fonte emissora é a redação do jornal, o grupo de técnicos, dentre os quais uns batem a foto, outros a escolhem, a compõem, a tratam, e outros enfim a intitulam, preparam uma legenda para ela e a comentam. O meio receptor é o público que lê o jornal. E o canal de transmissão é o próprio jornal, ou, mais exatamente, um complexo de mensagens concorrentes, de que a foto é o centro, mas de que os contornos são constituídos pelo texto, título, legenda, paginação, e, de maneira mais abstrata mas não menos "informante", pelo próprio nome do jornal (pois este nome constitui um saber que pode fazer infletir fortemente a leitura da mensagem propriamente dita: uma foto pode mudar de sentido ao passar de l'Aurore para l'Hmanité). Barthes considera a imagem fotográfica uma mensagem.
A totalidade da informação é pois suportada por duas estruturas diferentes (das quais uma é lingüística); essas duas estruturas são convergentes, mas como suas unidades são heterogêneas, não podem se misturar; aqui (no texto) a substância da mensagem é constituída por palavras; ali (na fotografia), por linhas, superfícies, tonalidades. Além disso, as duas estruturas da mensagem ocupam espaços reservados, contíguos, mas não "homogeneizados", como, por exemplo, num enigma figurado que funde numa só linha a leitura de palavras e figuras. Por definição, a própria cena, o real literal. Do objeto à sua imagem, há decerto uma redução: de proporção, de perspectiva e de cor. Mas essa redução não é em nenhum momento uma transformação (no sentido matemático do termo); para passar do real à sua fotografia, não é de nenhum modo necessário fragmentar o real em unidades e constituir essas unidades em signos substancialmente diferentes do objeto que oferecem
à leitura; entre esse objeto e sua imagem não é de modo algum necessário Interpor um
relê, Isto é, um código; decerto, a imagem não é o real; mas ela é pelo menos seu
perfeito analogon, e é precisamente esta perfeição analógica que, para o senso comum,
define a fotografia. descrever não é portanto apenas ser inexato ou incompleto, é mudar de estrutura, significar outra coisa além do que se mostra.
A conotação não se deixa forçosamente apreender imediatamente ao nível da própria mensagem (ela é, se quisermos, simultaneamente visível e ativa, clara e implícita), mas pode-se já induzi-la de certos fenômenos que se passam ao nível da produção e da recepção da mensagem: de um lado, uma fotografia de imprensa é um objeto trabalhado, escolhido, composto, construído, tratado segundo normas profissionais, estéticas ou ideológicas, que são outros tantos fatores de conotação; e, de outro, essa mesma fotografia não é apenas percebida, recebida, ela é lida, ligada mais ou menos conscientemente pelo público que a consome a uma reserva tradicional de signos; ora, todo o signo supõe um código, e é este código (de conotação) que seria necessário tentar estabelecer a conotação, isto é, a imposição de um sentido segundo a mensagem fotográfica propriamente dita, se elabora nos diferentes níveis de produção da fotografia (escolha, tratamento técnico, enquadramento, paginação): ela é em suma uma codificação do análogo fotográfico;
A retórica da
imagem
BARTHES,
Roland. A retórica da imagem in O
Óbvio e o Obtuso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
“Porque em
publicidade. a significação da imagem é, certamente intencional: sào certos
atributos do produto que formam a priori os significados da mensagem
publicitaria,”( p 28)
Com.: Uma imagem é propositalmente criada para
seu fim: propagar. A imagem publicitária é formada por signos e unidades, cujo
conjunto propõe uma finalidade, onde se compõem de intenções sociais,
culturais, ideológicas, entre outras.
“Temos, pois,
quatro signos para essa imagem, formando presumivelmente um conjunto coerente,
pois são todos descontínuos, exigem um saber geralmente cultural e remetem a
significados globais (por cxemplo. a italianidade), impregnados de valores
euf6ricos.” (p.29)
Com.: Os signos das imagens, na maioria das
vezes, são irregulares e isolados, porém, quando se juntam para determinada
imagem, passa a valer de um significado singular que, de maneira geral,
possuirá valores culturais e sociais ali inseridos e que não podem ser
ignorados enquanto interpretados.
“Os significados dessa
terceira mensagem são formados pelos objetos reais da cena, e os significantes por esses
mesmos objetos fotografados, pois é evidente que, na representação analógica a
relação entre a coisa significada
da imagem significante. não sendo mais arbitraria '(como é na língua). dispensa
ore/ai de um terceiro
termo. Sob a forma da imagem psiquica do objeto. 30
Com.: Os signos
concretos da cena, ao serem agrupados para determinada imagem passar a ter um
significado único para aquele contexto.
“Desenvolvendo assim,
em todas as sociedades, técnicas diversas destinadas aftxar a cadeia Outuamc
dos significados, de modo a combater o terror dos signos incertos: a mensagem
linguística é uma dessas técnicas. Ao nível da mensagem literal, a palavra responde
de maneira mais ou menos direta, mais ou menos parcial, à pergunta: o que é? Ajuda a identificar
pura e simplesmente os elementos da cena e a própria cena: trata-se de uma
descrição denotada da imagem (descrição muitas vezes parcial) ou, na
terminologia de Hjelmslev, de uma operação (aposta à conotação).'
(p.32)
Com.: Barthes esclarece
que, a palavra na imagem é colocada de forma a guiar o receptor enquanto a sua
interpretação. Nesse contexto, cada sociedade procura formas de integrar da
melhor maneira possível, a palavra com a imagem. A palavra na fotográfica pode
ser vista como um caminho que conduz o leitor à leitura e compreensão dos
significados (conotativos) da imagem.
“É evidente que,
fora da publicidade. a fixação pode ser ideol6gica, e esta é, sem dúvida. sua
função principal: o texto conduz o leitor por entre os significados da imagem,
fazendo com que se desvie de alguns e assimile outros: através de um dispatching, muitas vezes sutil, ele o teleguia
em direção a um sentido escolhido a priori. Em todos esses casos de fixação, a Linguagem
tem, evidentemente, uma função elucidativa. mas esta elucidação é seletiva; trata-se
de uma metalinguagem aplicada não à total id ade da mensagem icônica, mas
unicamente a alguns de seus signas; o texto é realmente a possibilidade do
criador (c, logo, a sociedade) de exercer um controle sobre a imagem: a fixação
é um controle, detém uma responsabilidade sobre o uso da mensagem, frente ao
poder de projeção das ilustrações; o texto tem um valor repressivo em relação à liberdade dos significados da imagem:
compreende-se que seja ao nível do texto que se dê o investimento da moral e da
ideologia de uma sociedade. (p.33)
Com.: A fixação é esse “sentimento” de
memorização daquela imagem, assim, uma propaganda que tem uma grande
divulgação, se insere na sociedade de modo que, todos quando tem acesso, já
conheça-a. Nesse contexto, a fixação não é apenas imagética, mas também ideológica,
social, etc. Isso acontece de forma que, a imagem propõe ao leitor os
significados de todo seu conjunto (imagem, texto, signos). Dessa maneira, a
fixação (ato de já ter conhecimento a respeito de algo) ajuda o leitor a
compreender os significados da propaganda e a leva para que outros públicos
possam conhece-la também.
“nunca se encontra
(pelo menos em publicidade) uma imagem literal em estado puro; mesmo que conseguíssemos
elaborar uma imagem inteiramente "ingênua ·a ela se incorporaria, imediatamente,
o signo da ingenuidade e a ela se acrescentaria uma terceira mensagem, simbólica.”
(p.34)
Com.: Toda imagem publicitária carrega consigo
mensagens simbólicas, que comporta suas intenções e questões culturais e sociais,
assim, ela nunca está em seu “estado puro”.
“Ao que parece, são
oposição do código cultural e do não-código natural pode traduzir o caráter específico
da fotografia e permitir avaliar a revolução antropológica que ela representa
na hist6ria do homem. pois o tipo de consciência nela implícita é realmente sem
precedentes: a fotografia instaura, na verdade, não uma consciência do estar aqui do objeto ( o que qualquer
cópia poderia fazer). mas a consciência do ter estado aqui.”(p. 36
Com.: A fotografia publicitária tem fortes marcas históricas em sua
significação.
“É. sem duvida, um
importante paradoxo hist6rico: quanto mais a técnica desenvolve a difusão das informações
(especialmente das imagens), mais fornece meios de mascarar o sentido construído
sob a aparência do sentido original. (p.37)
Com.: Quando uma imagem é fixada, ela passa a
ser tida/lida como “verdade” e, com o tempo, aquela imagem consegue substituir
o que poderemos chamar do sentido original.
“0
que constitui a originalidade desse sistema é que as possibilidades de leitura
de uma mesma lexia (uma imagem) é variável segundo os indivíduos.” (p. 38)
Com.: Uma imagem é um
conjunto de símbolos de unidades isoladas, como Barthes mostra, o que fará
diferença nessa propagação é exatamente o que ele chama de originalidade, ou
seja, como esse conjunto é produzido, pois isso influenciará na maneira como
vai ser lido.
“A
diversidade das leituras não é, no entanto, anárquica, depende do saber
investido na imagem (saber prático. nacional, cultural, estético); esses tipos
de saber podem ser classificados em uma tipologia: tudo se passa como se a imagem
se expusesse à leitura de muitas pessoas, e essas pessoas podem perfeitamente
coexistir em um único indivíduo: a mesma lexia mobiliza léxicos diferentes.”
(p. 38)
Com.: A leitura de uma
imagem publicitária depende de muitas situações, primeiro depende de como o
produtor a organizou, quais saberes foram apontados nela, como também depende
da forma de como o receptor a interpretou, o que necessita saber, quais saberes
ele tem. Em suma, uma imagem possui várias e distintas possibilidades de
leituras.
“Outra
dificuldade ligada á análise da conotação é que à particularidade de seus
significados não corresponde uma linguagem analítica particular; como nomear os
significados de conotação?” (p.39)
Com.: O autor esclarece que, a conotação, por si só,
é abstrata demais para ser nomeada, por isso, se torna difícil mencionar a
mensagem conotativa em uma imagem publicitária.
“A
retórica da imagem (isto é, a classificação de seus conotadores) é, assim, especifica
na medida em que é submetida às imposições físicas da visão (diferentes, por
exemplo. das imposições fonadoras), mas geral, na medida em que as
"figuras" nunca são mais do que relações formais de elementos.”
(p.40)
Com.: O autor nomeia a
retórica da imagem como o conjunto das ideologias que são inseridas
automaticamente nas fotografias publicitárias. Assim, é preciso que a
propaganda seja o mais clara possível, de uma linguagem leve, direta e
especifica, para que chegue de maneira mais rápida e eficaz em seus receptores.
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