O cinema clássico hollywoodiano

O CINEMA CLÁSSICO HOLLYWOODIANO: normas e princípios narrativos
Edilane de Jesus Gomes

BORDWEELL, D. O cinema clássico hollywoodiano: normas e princípios narrativos. In: RAMOS, F. P. (Org.). Teoria Contemporânea do Cinema, Volume II. São Paulo: Senac, 2005.

 “A narrativa pode ser estudada como representação: de que modo se refere ou confere significação a um mundo ou conjunto de ideias. A isso poderíamos denominar ‘semântica’ da narrativa, de que é exemplo a maioria dos estudos de caracterização ou do realismo. A narrativa também pode ser estudada como estrutura: o modo como seus elementos se combinam para criar um todo diferenciado [...]” p. 277
 Há dois modos de estudar a narrativa, uma é pela representação, que é o modo significativa de um conjunto de ideias ou estrutura que é modo de como se combinam os elementos para criar um diferencial. Estudar filme hollywoodiano de forma estrutural na análise do discurso, nos permite observar as camadas mais profundas buscando sentidos entre o filme e os acontecimentos históricos. Pois o que nos interessa em AD são os elementos e não o sentimento ou ideia do filme.
 “O filme hollywoodiano clássico apresenta indivíduos definidos, empenhados em resolver um problema evidente ou atingir objetivos específicos. Nessa busca, os personagens entram em conflitos com outros personagens ou com circunstâncias externas. A história finaliza com uma vitória ou derrota decisivas, a resolução do problema e a clara consecução dos objetivos. O principal agente causal é, portanto, o personagem, um indivíduo distinto dotado de um conjunto evidente e consistente de traços, qualidades e comportamentos. [...]” p. 278-279
É características dos filmes hollywoodianos a definição de cada personagem, tem o vilão e o mocinho e sempre no final o mocinho vence, é possível identificar na narrativa um romance em que no início o casal se conhece, passa por vários momentos difíceis no meio do filme e no final ficam juntos e felizes, ou seja, no fim são resolvidos os problemas.
“[...] O personagem mais ‘especificado’ é, em geral, o do protagonista, que se torna o principal agente causal, alvo de qualquer restrição narrativa e principal objeto de identificação do público. Esses aspectos do syuzhet não surpreendem embora já exibam importantes diferenças com relação a outros modos narrativos [...]” p. 279
Assim vemos que é fácil distinguir o protagonista em filmes hollywoodianos também, por sempre ser alvo de algum/todos conflitos, é o que mais aparece nas cenas e considerado o mais forte e tem um amor impossível, esses aspectos faz com o que o público identifica o personagem.
“[...] Cada cena apresenta etapas distintas. Inicialmente temos a exposição que especifica o tempo, o lugar e os personagens relevantes [..]. No meio da cena, os personagens agem no sentido de alcançar seus objetivos: lutam, fazem escolhas, marcam encontros, determinam prazos, planejam eventos futuros. No curso de sua ação, a cena clássica prossegue, ou conclui, os desenvolvimentos de causa e efeito deixados pendentes em cenas anteriores, abrindo, ao mesmo tempo, novas linhas causais para desenvolvimento futuro. Uma linha de ação, ao menos, deve ser deixada em suspenso para servir de motivação à próxima cena, que retoma a linha deixada pendente. Daí a famosa ‘linearidade’ da construção clássica [...]” p. 282
Em um filme, cada cena possui uma etapa, no início é exposta a especificação de tempo, lugar e os personagens que aparecerão na cena, no meio da cena apresenta o conflito dos personagens, por fim uma possível resolução do conflito ou algo que servirá de motivação, ou seja, é deixado um suspense para que o espectador continue acompanhando a trama, na outra cena, retoma o que ficou pendente, assim forma uma linearidade entre as cenas.
 “[...] Em qualquer narrativa, como assinala Meir Sternberg, sempre que o final da syuzhet é fortemente antecipado pela convenção, a atenção composicional incide sobre o retardamento do resultado promovido pelas porções intermediárias. [...]” p. 283
Dessa maneira, entendemos que por mais que se antecipe um final para a história que compõe a cena por meio de convenção, a atenção a essa história é atrasada por proporções causadas pelas histórias intermediárias. Assim, as cenas secundárias passam a ter visibilidade na trama.
 “[...] O esquecimento é promovido pelo procedimento de encerrar o filme com um epilogo,  uma breve celebração da nova estabilidade alcançadas pelos personagens principais. O epilogo não apenas reforça a tendência a um final feliz, como também repete os motivos conotativos aparecidos ao longo do filme [...]” p. 284
Dessa maneira, quando se passa todo o tormento, na cena final mostra o final de cada personagem como recompensa de tudo que aconteceu durante a trama, assim constata-se que durante as últimas cenas do filme os personagens terão um final feliz.
“[...] é evidente que as narrativas hollywoodianas são fortemente redundantes. Tal efeito é obtido principalmente por modelos que podem ser imputados ao mundo da história [...]” p. 289
Assim podemos constatar que nas narrativas hollywoodianas possuem umas regularidades entre elas, ou seja, caracteriza-se pela repetição das histórias, assim é fácil de identificar qual será o conflito e a solução dele durante a narrativa.
 “[...] Somente na narração clássica privilegia um estilo que persegue a cada momento maior clareza denotativa possível [...] A iluminação deve destacar a figura de fundo; a cor deve definir os planos espaciais; a cada plano, o centro de interesse da história geralmente será centralizado em relação as laterais do quadro. O registro de som é planejado para proporcionar máxima clareza aos diálogos. Os movimentos de câmera são concebidos para criar um espaço volumoso e inequívoco [...]” p. 292
Para destacar a imagem do fundo utiliza a iluminação, a sonorização é ajustada para compreender o diálogo, assim, cada parte do plano é planejado para proporcionar um entendimento melhor para o espectador, dessa forma, a movimentação da câmera é voltada para criar um espaço amplo, assim é passado para o telespectador o mais real possível.
“Lembremos, também, os modos de enquadrar a figura humana. Na maioria das vezes, um personagem será enquadrado entre o plano americano [...] e o primeiro plano [...]. O ângulo da câmera será reto ou ‘normal’, no nível do ombro ou do queixo. É mais raro o enquadramento em plano geral muito aberto ou em primeiríssimo plano, com uma câmera baixa ou alta. [...]” p. 293
Nos filmes hollywoodianos há uma especificidade ao enquadrar uma figura humana, o personagem é enquadrado entre o plano americano onde pega do joelho para cima e o primeiro plano que é dado a altura dos ombros, esses são os planos em que mais aparecem, é raro o enquadramento em plano geral ou primeiríssimo plano com a câmera alta ou baixa. Na maioria das vezes, as cenas também começam com um plano conjunto que mostra o espaço em planos mais próximos.
 “[...] O espectador conhece os personagens e as funções de estilos mais prováveis. Possui internalizadas as normas cênicas de exposição, de desenvolvimento da linha causal anterior, etc. Conhece ainda as formas pertinentes de motivação do que é apresentado [...]” p. 295
No cinema hollywoodiano possui uma regularidade entre as exposições das cenas, assim o telespectador já faz uma leitura dos personagens sabendo mais ou menos o seu estilo. Assim, é possível o espectador fazer uma hipótese que será uma história canônica e que o protagonista irá ter algum conflito que será resolvido no final.
 “Em razão de sua centralidade no comércio cinematográfico internacional, o cinema hollywoodiano exerceu forte influência sobre a maioria dos outros cinemas nacionais. Após 1917, as formas de realização cinematográfica dominantes no exterior foram profundamente afetadas pelos modelos narrativos utilizados pelos estúdios americanos. [...]” p.  298-299
Assim podemos considerar que o cinema hollywoodiano influenciou a maioria dos outros cinemas, podemos observar nas narrativas utilizadas nas cenas, assim o espectador já constrói sentido de acordo com o conhecimento, bem como, enredos com final felizes são características do cinema hollywoodiano.


0 comentários:

Postar um comentário

 

MICHEL FOUCAULT

LANÇAMENTO - CEDISCO

Marih Design
O objetivo do CEDISCO é popularizar a produção científica por meio de números monográficos que fomentem ao mesmo tempo os estudos discursivos no campo da pesquisa, da extensão e do ensino, colocando em evidência os lugares que o corpo e seus atravessamentos ocupam na constituição do sujeito dos dias de hoje, assim como destacar a materialidade dos suportes que os acolhem. Essa configuração trípica entre discurso, corpo e seu suporte material, de um lado, delimita os contornos da produção científica e, de outro, alarga seus limites.

COURTINE SOBRE PÊCHEUX

EVENTOS

DICA DE LEITURA

Marih Design
Acta Scientiarum. Language and Culture, ISSN 1983-4675 (impresso) e ISSN 1983-4683 (on-line), é publicada semestralmente pela Universidade Estadual de Maringá. A revista publica artigos originais em todas as áreas relevantes de Letras e Linguística. A sua missão é viabilizar o registro público do conhecimento e sua preservação; Publicar resultados de pesquisas envolvendo ideias e novas propostas científicas; Disseminar a informação e o conhecimento gerados pela comunidade científica; Agilizar o processo de comunicação científica na área de Letras e Lingüística.

LEITORES DE IMAGENS - DUBOIS

QUEM SOMOS

Minha foto
Audiscurso
O Laboratório de Estudos do Audiovisual e do Discurso - AUDiscurso atua nas atividades de ensino, pesquisa e extensão da Universidade do Estado da Bahia - UNEB, desde abril de 2012.
Ver meu perfil completo

CONHEÇA A NOSSA UNIVERSIDADE

AUDISCURSO NA REDE